8. Controle do Estoques
Para se evitar a falta de material e se atingir altos níveis de atendimento (NA) recorre-se a um recurso de proteção chamado Estoque de Segurança (Es). O estoque de segurança é uma quantidade de material existente em estoque que busca garantir o atendimento das necessidades protegendo-o contra a variação da demanda (D), que pode levar a consumos maiores que o esperado, e/ou a variação do tempo de reposição (L), que pode levar a atrasos no recebimento de pedidos planejados.
Dessa forma o estoque de segurança funcionará como um bolsão virtual de materiais que funciona como um amortecedor para estas situações de variações maiores que o normal. Este bolsão precisa ser projetado de forma tal que ele seja efetivo quando for necessário, e que não seja grande ao ponto de causar transtornos na administração ou onerar significativamente os recursos financeiros empenhados no estoque.
Há diferentes métodos para se determinar qual deva ser este estoque de segurança, aqui serão tratadas as formas que consideram o abastecimento cíclico a partir do ponto em que se deve realizar um pedido de modo a garantir sempre que haja quantidades suficientes em estoque.
8.1. Estoque de Segurança (Es) com demanda (D) variável e Tempo de Reposição (L) fixo
É comum que ao tratarmos da modelagem de um grande conjunto de dados recorre-se a utilização da estatística, e isso não será diferente aqui. Para se compreender o comportamento de um item num estoque é preciso entender a variação de sua demanda, assim, deve-se inicialmente realizar um estudo estatístico para determinar duas variáveis estatísticas: a Variância (σ²) e Desvio Padrão (σ). Os métodos aqui apresentados assumem que a distribuição tanto da demanda (D), quanto do tempo de reposição (L) seguem uma distribuição normal.
Observe os dados da demanda semanal de um item qualquer presente em um estoque que tem tempo de reposição fixo (L) em 9 semanas (os exemplos aqui apresentados utilizam um conjunto pequeno de dados apenas para servir como exemplo, na prática a quantidade de dados disponíveis possibilitará realizar o estudo com amostras muito maiores).
Onde:
= Demanda média
Di = Somatória das demandas
n = número de períodos
Para encontrar a variação absoluta de cada valor em relação à média subtrai-se cada valor (Di) da média (D). Na sequência, eleva-se esta variação ao quadrado, conforme apresentado a seguir.
Onde:
σd = desvio padrão da demanda;
σ²d = variância da demanda;
Di = demanda do item no período i;
D = demanda média;
n = número de períodos;
Aplicando ambas as equações se têm:
Agora com as estatísticas de variância e desvio padrão deve-se estipular um nível de serviço de atendimento desejado para o estoque.
O nível de serviço é uma interpretação para o nível de confiança estatística desejado, e deve ser determinado pelo gestor. O nível de confiança (nível de serviço) é encontrado numa tabela de distribuição normal padronizada presente em qualquer livro de estatística. O nível de confiança expresso em porcentagem estará associado a um valor padronizado Z.
Visando a praticidade, na tabela a seguir são apresentados os principais valores do parâmetro Z para o nível de confiança adotado (sendo que o nível de confiança representa o nível de serviço adotado).
É importante salientar que estes valores representam o valor de Z para variação unidirecional na distribuição normal, já que apenas variações acima da média que representam risco de falta de materiais no estoque. Ou seja, é considerada a variação total de 50% abaixo da média na distribuição normal mais o complemento da porcentagem acima da média.
Considere que para este exemplo adotou-se um nível de confiança de 80%, o que consultando a tabela representa um parâmetro Z igual a 0,84.
Com estes dados obtidos até agora é possível determinar um Estoque de Segurança (Es) para o item estudado utilizando-se da equação a seguir.
Define-se que baseado na variação da demanda estudada, considerando um nível de serviço de 80%, e considerando o tempo de reposição fixo de 9 semanas, o Estoque de Segurança deste item deve ser de 12 unidades.
Com o Estoque de Segurança (Es) definido, deve-se determinar o Ponto de Reposição (R), para que se possa fazer o reabastecimento contínuo do estoque. O Ponto de Reposição (R) é a quantidade de itens que quando atingida, dispara o momento de realizar um novo pedido deste item junto aos fornecedores. O cálculo do Ponto de Reposição (R) é dado por:
Assim devido ao longo tempo de reposição deste item (9 semanas) e o comportamento da demanda semanal deste item (média de 35 unidades), quando o estoque atingir o nível de 327 unidades é disparado o momento para se requisitar mais unidades junto ao fornecedor. O estoque de segurança de 12 unidades protegerá a possibilidade de falta de material até que o novo pedido abasteça o estoque.
Observe que o estoque de segurança é apenas virtual, não é uma quantidade de peças “a mais” dentro do estoque. Considere que seja consumida exatamente a quantidade média de 35 unidades durante as 9 semanas que o pedido demora para chegar, se teria então um consumo total de 315 unidades.
Assim, o estoque de segurança (Es) é adicionado a esta quantidade, representando que ao invés de se realizar o pedido quando se atingir o nível de 315 unidades, e em função disso se correr o risco de falta de material se a demanda variar em média para valores maiores durante o período, protege-se contra esta eventual variação com a quantidade estipulada para o estoque de segurança.
Desta forma se realizará o pedido em algum momento anterior, quando o estoque atingir o nível de 327 unidades (as 12 unidades a mais representadas pelo estoque de segurança), logo se ao longo das 9 semanas ocorrerem demandas maiores do que a média se terá realizado o pedido 12 unidades antes do que o consumo médio do período necessitaria, o que constitui um bolsão de unidades que estariam disponíveis para serem consumidas.
8.2. Determinação do Estoque de Segurança (Es) com demanda (D) e Tempo de Reposição (L) variáveis
Anteriormente trotou-se dos casos em que a demanda (D) do item era variável, mas o tempo de reposição (L) era fixo, agora se abordará a situação em que o tempo de reposição (L) também é variável, o que tende a ser a situação mais comum.
Prosseguindo a partir do exemplo apresentado anteriormente, considere que ao invés do tempo de reposição fixo em 9 semanas, este tempo seja variável conforme dados dos últimos pedidos apresentados na tabela a seguir.
Organiza-se a tabela a seguir, de forma similar ao realizado anteriormente com demanda, para se obter os dados para determinar a variância (σ²) e desvio padrão (σ) do tempo de reposição (L).
Agora com o estudo do comportamento do tempo de reposição (L) juntamente com os dados do comportamento da demanda realizados anteriormente pode-se determinar o Estoque de Segurança (Es) para a demanda e tempo de reposição variáveis com a seguinte equação.
Com o tempo de reposição (L) sendo também variável, há mais incerteza no modelo, logo o estoque de segurança (Es) aumentou se comparado a situação anterior, consequentemente o ponto de reposição (R) também.
Sob este modelo se está então protegendo a eventual falta de material em função de variações acima da média de consumo e variações acima da média de tempo de reposição, sempre considerando que ambos seguem uma distribuição normal.
O sistema de duas gavetas é o modo mais simples de controle dos estoques, sendo indicado para controle de itens de menor valor agregado, geralmente os itens classificados como “C” na classificação ABC.
Esse sistema consiste em basicamente ter-se dois contentores (caixas, caçambas, paletes, ou recipiente adequado qualquer) para armazenar o material, quando um desses contentores se esvaziar, é o momento de se realizar um novo pedido. Durante o período de abastecimento do novo pedido, o material é consumido do segundo contentor, até que o material chegue e tenha-se disponível novamente dois contentores.
Figura 8.1 – Sistema de duas gavetas
Para adotar este modelo é preciso garantir que um contentor tenha unidades suficientes para atender as necessidades da demanda com expressiva folga durante o tempo de reposição. Se esta condição não for atendida se incorrerá em risco de falta de material.