10. Transportes
Agora, já abordados os métodos que auxiliam a gestão dos estoques, é o momento de entender como garantir o fluxo de materiais destes estoques, que ocorrem por meio da entrada e saída de materiais, e é protagonizado pelos transportes.
Conforme observado inicialmente, os transportes são uma das atividades primárias da logística, que garantem o fluxo de materiais para diferentes pontos geográficos, invariavelmente necessitam de um veículo ou outro meio de transporte, e são geralmente a fonte dos maiores custos dentro da logística.
Países desenvolvidos são marcados por uma boa infraestrutura de transportes em seus diversos níveis, porque uma boa e econômica estrutura de transportes permitem o acesso de produtos a diferentes pontos geográficos a custos admissíveis.
Tomemos como exemplo, o estado do Rio Grande do Sul que está entre os maiores produtores de leite do Brasil, e consideremos um produto manufaturado qualquer derivado do leite, como a manteiga.
Manteiga é um alimento consumido em todo Brasil, e de certa forma, apresenta muita concentração regional, ou seja, a manteiga consumida em uma região geralmente é produzida também naquela região.
Mas o que impediria um produtor de manteiga do Rio Grande do Sul, comercializar seu produto, por exemplo, no Ceará?
De forma simples, pode-se responder que os custos de transporte do produto entre estados tão distantes, encarecem o produto de tal forma, que a manteiga feita no Rio Grande do Sul chegaria as prateleiras dos supermercados do Ceará por um custo tão alto que não conseguiria competir com as manteigas regionais.
Assim, os transportes estão relacionados diretamente a oferta de produtos em diferentes pontos geográficos a custos admissíveis, e para um país tão grande quanto o Brasil, os custos destes transportes são significativos sobre o preço dos produtos.
Conforme discutido nos tópicos anteriores, precisamos dos transportes porque eles “agregam valor de lugar” ao produto. Para uma empresa, o limite do custo para utilização dos transportes é quando o material transportado se torna expressivamente mais caro que uma opção, de outra empresa, com custo menor.
Assim, observa-se que de modo geral a discussão e análise dos transportes invariavelmente estará relacionada aos seus custos, por isso a importância tão grande em se ter uma boa e econômica infraestrutura de transportes, assim como uma boa gestão dos veículos.
Ao se tratar de transportes, algumas características são sempre consideradas.
· Custos: Conforme mencionado anteriormente, os custos são o foco das tratativas relacionadas aos transportes;
· Tempo: o tempo de trânsito entre o ponto A e o ponto B é uma característica que impacta diretamente todo o planejamento para consumo dos materiais.
· Variabilidade do tempo: a partir do momento que um tempo é estipulado na realização do transporte, todo o planejamento estará baseado nele. Se este tempo se alterar, ou seja, variar, poder-se-á ter dois problemas. Se o tempo aumentar, se correrá o risco de ocorrer falta do material em estoque. Se o tempo diminuir, poderá ocorrer falta de espaço para armazenagem do material.
· Danos e perdas: o transporte e o processo de embarque e desembarque precisa ser adequado ao tipo de carga de modo a evitar danos e perdas.
De modo geral os transportes podem ser realizados por três meios: terra, água ou ar. Dentro destes meios, classificam-se modos que utilizam diferentes tipos de veículos (e tecnologias), a que são dado o nome de modais de transporte. São basicamente cinco modais de transportes:
· Rodoviário;
· Ferroviário;
· Aquaviário;
· Aéreo;
· Dutoviário;
Cada modal tem suas características vantagens e desvantagens. De modo simplificado pode-se dizer que o transporte rodoviário consegue chegar a qualquer ponto geográfico; o transporte ferroviário e aquaviário movimenta grandes quantidades, com bom custo unitário; o transporte aéreo é extremamente rápido; e o transporte dutoviário é bastante específico e econômico para o tipo de produto que consegue transportar.
A predominância do transporte rodoviário sobre os demais modais é considerável, e isso é ainda mais intensivo no Brasil devido a características de desenvolvimento politico-econômicas ao longo das décadas, nas quais se priorizou este modal em detrimento a outros.
Segundo dados do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (DNIT), no Brasil aproximadamente 70% das cargas são transportadas por meio rodoviário.
Não há consenso, mas de modo geral o ideal é que o transporte rodoviário fosse utilizado para realizar entregas regionais, e o transporte de grandes distâncias fosse realizado com modais mais econômicos como ferroviário ou aquaviário.
O transporte rodoviário é onipresente em nossas vidas. Utilizamos ele para ir trabalhar, passear, viajar, e as empresas para a transferência de cargas tanto para outras empresas dentro de sua cadeia de suprimentos, quanto para empresas de atacado e varejo, assim como para o consumidor final. Este modal utiliza-se de veículos automotores e vias dentro do território (ruas, avenidas, rodovias etc.) para transferir cargas.
Sua flexibilidade, facilidade de acesso, e menor custo de aquisição dos veículos (comparativamente aos veículos utilizados nos outros modais) fazem sua utilização ser predominante.
Dada sua variedade de modelos de veículos, e infraestrutura de acesso basicamente onipresente (vias), o modelo rodoviário é altamente flexível, conseguindo chegar em todos os lugares. Veículos muito grandes não conseguem chegar ou tem dificuldade de chegar em alguns lugares, mas são basicamente as únicas opções disponíveis.
Além da flexibilidade de acesso, a grande variedade de modelos garante que haja veículos com características específicas para realizar transporte dos mais variados tipos de carga.
Comparativamente aos outros modais, os veículos rodoviários precisam de menor infraestrutura e equipamentos mais simples e acessíveis para realizar carga, descarga e manejo dos materiais transportados.
Quadro 10.1 – Transporte Rodoviário
Toda esta flexibilidade de acesso, de carga e manejo, também entregam a vantagem deste tipo de transporte estar disponível para contratação em praticamente qualquer lugar, além de ser menos burocrático.
Entre as desvantagens pode-se citar o alto custo operacional deste modal, o que implica em altos custos unitários de transporte. Comparativamente a outros modais, o transporte rodoviário está associado a altos riscos de acidentes, e estão também sujeitos a riscos de roubo. Estes dois fatores encarecem ainda mais os custos devido a necessidade de contratação de seguros.
No Brasil a infraestrutura rodoviária é muito desigual, tendo regiões servidas com ruas e rodovias de maior qualidade, e regiões com situações bastantes precárias.
Outro grande fator negativo do transporte rodoviário frente aos outros modais é que ele tende a ser altamente poluidor (juntamento com o transporte aéreo).
O transporte aquaviário utiliza-se de vias naturais compostas por água, como rios, lagos e oceanos para realizar o transporte, por meio de veículos fluentes como transportadores. Devido a utilização desses recursos naturais como vias de transporte, há uma limitação de possibilidades de rotas (considerando rios), e onde a intervenção para criação ou alteração de vias é extremamente raro.
A vantagem desta situação é que o custo para a “construção da via de transporte” é virtualmente zero, porque ela já existe na natureza, mas claro que são necessários investimentos na infraestrutura dos entrepostos e no desassoreamento do leito de rios utilizados como vias.
Os maiores custos se concentram nos postos de atracagem e manipulação de cargas. Outra grande vantagem deste modal é que ele se torna “economicamente atraente” porque apresenta custos unitários por distância percorrida menores que os outros modais. Associado a grande capacidade comparado ao modal rodoviário, tende-se a diluir os custos tornando os fretes ainda mais vantajosos.
Além da vantagem com grandes distâncias, este meio de transporte possibilita viagens intercontinentais de forma extremamente econômicas comparativamente a alternativa que seria o transporte aéreo.
Quadro 10.2 – Transporte Aquaviário
Uma grande desvantagem fica por conta do longo tempo de viagem, e a tendência de ser mais burocrático que o meio rodoviário, principalmente em transportes intercontinentais.
O transporte ferroviário utiliza-se de locomotivas e uma rede de trilhos para realizar o transporte. Neste método há custos para construção de novas vias e altíssimos custos na aquisição do veículo transportador, além dos entrepostos de movimentação de carga.
Este método não é flexível, porque só pode realizar percursos iguais e repetitivos, mas sua vantagem é a grande capacidade de transporte e relativo baixo custo operacional.
É um meio utilizado majoritariamente pelas chamadas indústrias de base (indústrias que fabricam matéria-prima) e agricultura de larga escala.
Quadro 10.3 – Transporte Ferroviário
Comparativamente ao método mais utilizado que é o rodoviário, o transporte ferroviário apresenta mais eficiência energética, entrega mais carga transportada por consumo de combustível, tem menor nível de acidentes e menos poluidor.
É usado no transporte de grandes volumes de carga por grandes distâncias utilizando o meio terrestre.
O cenário particular do Brasil há agravantes que dificultam ainda mais a sua utilização em relação a países que utilizam este meio de transporte de forma mais massiva: a malha ferroviária é pequena, ainda mais considerando o tamanho do país; e as ferrovias existentes apresentam bitolas diferentes, ou seja, um maquinário não consegue utilizar trilhos de diferentes vias por as dimensões são diferentes.
O transporte aéreo também se utiliza de espaços da natureza para realizar o transporte, ou seja, não é preciso construir vias, mas dependem de postos de aterrisagem (aeroportos) e manipulação de cargas utilizando equipamentos custosos.
Sua flexibilidade de transporte, em tese, é limitada apenas pelos aeroportos em diferentes pontos geográficos. Este modal pode cobrir grandes distâncias, mais rápido que qualquer outro, mas tem um custo extremamente elevado.
Quadro 10.4 – Transporte Aéreo
Outra característica é que ele apresenta limitação no volume da carga que consegue transportar comparativamente ao transporte ferroviário e aquaviário que também são utilizados para grandes distâncias. Tende a também ser bastante burocrático, principalmente quando o transporte envolve países diferentes entre origem e destino.
Este tipo de transporte é extremamente especializado, direcionado a líquidos e gases que se utilizam de infraestruturas tubulares. É necessária a construção dos dutos contínuos do ponto de origem até o ponto de consumo, dedicando o transporte e o produto a um único tipo.
Quadro 10.5 – Transporte Dutoviário
Aqui não vá veículo transportador, diferente dos outros modais, e normalmente a empresa que comercializa o produto é a detentora da via (os dutos).
10.6. Utilização dos transportes
No âmbito empresarial o transporte pode ser realizado a partir de uma frota própria ou por meio da contratação de terceiros. Utilizando-se de frota própria, os principais custos associados a administração dos transportes são mão-de-obra, combustíveis, manutenção, custos rodoviários e com terminais, seguros, e custos administrativos.
Na atualidade, em função da política empresarial de foco no Core Business da empresa (movimento no qual a empresa dedica sua atuação a sua função principal, a que gera dinheiro), cada vez mais as empresas utilizam-se da terceirização dos serviços de transportes. Esta situação deu origem a inúmeras empresas prestadoras de serviços de transporte, dos mais diferentes tamanhos e especialidades.
Dos modais de transporte, o método rodoviário é inegavelmente o mais presente, flexível e acessível entre todos, fazendo os outros métodos serem complementares para situações específicas. Para agravar ainda mais a situação, o Brasil sofreu historicamente com baixíssimos investimentos em infraestruturas para utilização do transporte ferroviário e aquaviário.