7. Dinâmica dos estoques e nível de atendimento
O desafio em gerir um estoque é administrar o fluxo de materiais (entradas e saídas) de modo a não haver falta de material quando este material for necessário, mas também, de modo a não haver oneração financeira excessiva para a empresa.
Não se pode investir pouco em estoque e aumentar o risco de falta de material, nem investir muito em estoque e onerar financeiramente a empresa. Deve-se buscar um equilíbrio entre as duas situações.
Em outras palavras, deve-se conseguir ter itens em estoque em uma quantidade de modo que seja atendida a demanda, e sem que se gaste muito dinheiro para isso.
Baseado no modelo de transformação no qual qualquer atividade pode ser resumida em entradas, processos, e saídas, a administração dos estoques também pode ser assim resumida.
Figura 7.1 – Funcionamento de um estoque
A atividade de aquisição (entradas) dispõe os itens para o estoque, e as atividades de programação (saídas) despacham os itens aos clientes, em meio a esta dinâmica ocorre o processo de administrar os estoques.
Anteriormente neste material já se tratou dos tipos de estoques, seus custos, e como organizá-los para facilitar a administração. Neste ponto a questão a ser respondida é: quanto material é necessário em estoque para reduzir o risco de falta e não onerar financeiramente a empresa?
Em outras palavras, qual será o estoque mínimo, ou estoque de segurança, que a administração do estoque deve manter para a estabilidade da operação?
A literatura apresenta diferentes formas para se determinar a política de estoque dos diferentes materiais: sistemas de duas gavetas, sistemas de revisão periódica, sistemas determinados estatisticamente etc.
Mas antes de se aprofundar nos detalhes de como determinar estas políticas, é preciso compreender a dinâmica básica dos estoques ao longo do tempo, que é representada no chamado Gráfico Dente de Serra mostrado a seguir.
Figura 7.2 – Gráfico Dente de Serra
No “mundo perfeito” de um estoque o consumo é constante, o tempo de reposição (L) é constante, a quantidade comprada (Qc) é constante.
No início o estoque apresenta uma quantidade qualquer (Qc) que vai sendo consumida constantemente ao longo do tempo. Em algum ponto é realizado um novo pedido que levará o tempo “L” para chegar. Passado o tempo “L”, o estoque estará no seu nível mínimo, e o pedido realizado chegará para abastecer o estoque, elevando-o novamente para a quantidade Qc.
Esta situação representa um “mundo perfeito”, e ocorrerá em ciclos constantes ao longo do tempo. Sendo o consumo constante e a quantidade pedida (Qc) também constante, se terá um estoque médio dentro de um ciclo igual a metade de Qc (Qmed=Qc/2). Observe que em alguns momentos se terá mais unidades, e em outros menos unidades, em média pode-se dizer que se mantém em estoque metade do que é comprado.
Novamente, este é um modelo de um mundo perfeito que teoricamente não irá existir na prática, assim, analisando o gráfico é possível mencionar dois principais fatores que são diferentes no mundo real (não são constantes) e dificultam a administração dos estoques: a variação da demanda (D) e a variação do tempo de reposição (L).
Em maior ou menor grau tanto a demanda (D) quanto o tempo de reposição (L) estão sujeitos a variações no dia a dia de administração de um estoque.
Observe inicialmente o efeito que uma demanda (D) variável teria no gráfico Dente de Serra (mantendo-se o tempo de reposição “L” constante).
Figura 7.3 – Gráfico dente de serra com a demanda variável
Com a demanda variando ao longo do tempo, hora se terá um maior consumo, hora se terá um menor consumo. Com o ponto de pedido fixo em uma quantidade qualquer, e o tempo de reposição (L) constante, pode ocorrer que em alguns momentos se consuma mais do que o estoque está preparado para atender, e antes que ele seja abastecido, o que causará a falta de material no estoque.
O outro fator que não se comporta de forma constante no mundo real, e dificulta a administração dos estoques é a variação no tempo de reposição (L). Observe na figura a seguir onde se manteve uma demanda (D) constante, mas o tempo de reposição (L) se apresenta de forma variável.
Figura 7.4 – Gráfico Dente de Serra com o tempo de reposição variável
O consumo (D) é constante, mas como a reposição (L) as vezes pode demorar mais do que o previsto, em algumas ocasiões isto pode levar a uma falta de material no estoque. No gráfico, a primeira entrega ocorreu num temo L em que foi possível abastecer o estoque sem causar falta, mas a segunda entrega demorou mais (o tempo de reposição L foi maior), assim quando o material chegou o estoque já estava em déficit do item.
No mundo real, a situação mais comum é que tanto a demanda (D) quanto o tempo de reposição (L) sejam variáveis ao longo do tempo, o que leva a uma situação ainda mais complexa representada na figura a seguir.
Figura 7.5 – Gráfico Dente de Serra com demanda e tempo de reposição variável
Com ambas as variações o estoque está exposto a mais situações em que poderá ocorrer falta de estoque. Para evitar estas possíveis faltas de estoque é necessário determinar a política de estoque para cada item.
Geralmente os critérios para política de estoque passam pela análise ABC. Itens que tem maior importância financeira (classificados como itens A) demandam controles mais rígidos e métodos mais robustos para evitar a falta, já itens de menor movimentação financeira (classificados como C) podem ter controles mais simplificados.
No próximo capítulo serão apresentados métodos para gestão do estoque e sua política de abastecimento.
7.1. Nível de Serviço (Nível de Atendimento)
O Nível de Serviço de operação está associado a capacidade da operação atender as diversas necessidades de seus clientes, sejam internos ou externos. Operações com altos níveis de serviço, incorrem em pouquíssimos eventos de falta de material como mostrado nos gráficos anteriores, além de outros problemas relacionados a entrega, já operações com baixos níveis tendem a deixar de atender as necessidades em diversas oportunidades.
Como já mencionado anteriormente a ideia é que se administre o estoque de modo a atender as demandas sem comprometer financeiramente a empresa com alto níveis de investimentos em estoques.
De modo geral, os níveis de serviço na administração de um estoque passarão por fatores como:
· Tempo entre o recebimento do pedido e o despacho;
· Capacidade de atender a variedade requerida dentro de um pedido;
· Parcela de itens não atendidos;
· Itens entregues dentro do prazo;
· Itens entregues dentro das condições exigidas (qualidade);
São inúmeros fatores que podem ser levados em consideração em relação ao Nível de Serviço, e normalmente cada empresa adotará um conjunto de fatores que serão monitorados.
O Nível de Serviço afeta diretamente os custos administrativos para gerenciar os estoques, assim ao se buscar maiores níveis também se incorrerá em maiores custos.
Talvez o principal componente que compõe o Nível de Serviço é o Nível de Atendimento (NA) do estoque para cada item ao longo do tempo. O Nível de Atendimento representa a capacidade do estoque atender a demanda sem que ocorram faltas de materiais.
Normalmente se considera o período de um ano, e observa-se quantas unidades do item foram demandadas pelo cliente e quantas não foram atendidas com o estoque no momento do pedido.
Este nível é representado por um valor entre 0 e 1 e é dado por:
Este valor representa o Nível de Atendimento (NA) de um único item, mas o mais comum é que o cliente realize pedidos que incluam mais de um item. Nesse caso é possível determinar a probabilidade de atender o pedido.
Considere um pedido que além do item descrito anteriormente, também inclua outros três itens com os seguintes NA’s: 0,91; 0,97; 0,98.
A probabilidade de o fornecedor atender o pedido completo será:
Probabilidade de atender o pedido = 0,94 x 0,91 x 0,97 x 0,98 = 0,8131
Para
atingir níveis satisfatórios de NA é preciso gerir os estoques de forma
eficiente. O monitoramento do NA do estoque é de fundamental importância
para que se aprimore continuamente sua administração.
Para
se obter altos NA’s recorre-se a métodos que auxiliam na gestão do
estoque, assim no próximo tópico serão apresentados os seguintes métodos:
·
Sistema
de duas gavetas;
·
Estoque
de segurança (Es) com demanda (D) variável;
·
Estoque
de segurança (Es) com demanda (D) e tempo de reposição (L)
variável;
Estes não são os únicos métodos para realizar a gestão de estoques, mas talvez sejam os mais difundidos na prática.