O planejamento da produção, considerando o longo prazo, tem relação muito próxima ao planejamento estratégico da empresa, que leva em conta fatores do ambiente mercadológico, e devem estar alinhados buscando o mesmo caminho futuro.
Pode parecer óbvio dizer que ambos os planejamentos devem estar alinhados, mas não é incomum encontrar situações nas quais o planejamento estratégico da empresa está orientado por um caminho, que não tem aderência com as políticas de planejamento e gestão da produção adotadas pela gerência e diretoria fabril.
Por exemplo, pode haver um direcionamento estratégico da empresa para seu setor comercial buscar novos clientes para dois ou três produtos de menor demanda dentro do portfólio, e a diretoria do setor fabril pode estar atuando para flexibilizar um equipamento específico, de modo que ele seja capaz de produzir estes três produtos e liberar outros equipamentos de sua ocupação.
Ora, se o departamento comercial tenta aumentar a demanda, e a produção busca focar a produção em um único equipamento, consequentemente reduzindo a capacidade global para os três produtos que utilizavam outros equipamentos, o desastre será iminente.
Dentro do alinhamento de planejamento entre o mercado e a produção, é preciso identificar as características que apresentam sinergia entre ambos. A literatura resume, que entre os anseios do mercado e o impacto direto destes anseios sobre a produção, há cinco aspectos que devem ser compreendidos e alinhados:
· Qualidade;
· Rapidez;
· Confiabilidade;
· Flexibilidade;
· Custo;
Estes aspectos fazem uma ligação entre os fatores que são mais relevantes para o mercado do tipo de produto produzido pela empresa, e como estas características afetam diretamente a organização e planejamento da produção.
Por exemplo, uma empresa que fabrica capinhas para celulares. Dada dinâmica do mercado de celulares que apresenta modelos novos com uma frequência exorbitante, esta empresa de capinhas precisa seguir o ritmo de adaptação de produto e ser capaz desenvolver modelos novos de capinhas para acompanhar a renovação de modelos do mercado. A produção da empresa precisa ser flexível.
Sendo a flexibilidade uma característica imprescindível para esta empresa conseguir atuar em seu mercado, é preciso que o foco da administração da produção seja em propiciar flexibilidade a operação.
A avaliação para identificar qual é a característica relevante para o mercado pode não ser tão fácil, e normalmente demanda cuidadosa análise do comportamento deste mercado. De modo geral tenta-se encontrar a resposta para as seguintes perguntas:
· Dentro deste mercado de atuação da empresa, qual é o aspecto competitivo (entre os cinco) mais relevante para o cliente?
· Qual aspecto que efetivamente tem maior peso no momento de o mercado consumir este tipo de produto?
Um fator relevante é considerar a questão do mercado dentro da indústria, algo que pode trazer confusão. A maior parte dos relacionamentos cliente/fornecedor dentro da indústria é realizado de indústria para indústria, ou seja, uma indústria produz um componente ou matéria prima que é consumida por outra indústria.
Assim, ao pensar no mercado, refere-se a essa indústria que está comprando um componente, não no mercado do produto final.
Por exemplo, uma empresa que fabrica guarnições de polímeros utilizadas por indústrias de móveis, ao avaliar qual entre os aspectos o mercado considera mais relevante para o produto, tem como seu mercado a ser avaliado as indústrias que fabricam móveis em série, não o mercado que consome o produto final móveis fabricados em série.
Toda empresa desejaria atingir a excelência dentro dos cinco aspectos competitivos (baixo custo, alta qualidade, rapidez de entrega com confiabilidade de prazos, e flexibilidade no atendimento), mas este é um cenário difícil de ser atingido.
Assim, é preciso identificar entre estes cinco aspectos qual é o mais relevante para seu mercado de atuação, já que cada um deles terá um impacto diferente na forma de administração da produção.
Com o aspecto mais relevante identificado, o mantra da organização e planejamento da produção deve ser priorizar este aspecto em todas as decisões tomadas no ambiente fabril.
A partir daí, é preciso traduzir o aspecto identificado em forma de metas a serem atingidas na produção, como por exemplo, índices mínimos da qualidade, metas para cumprimento rigoroso dos prazos, objetivos de desempenho no tempo de atravessamento dos materiais, redução de custos, monitoramento e metas para tempos de setups, entre outros.
Apesar de cada um dos aspectos trazer suas características próprias e influência sobre a organização da produção, de uma forma ou de outra eles estão sempre relacionados.
A figura a seguir apresenta a relação entre os aspectos do ponto de vista do desenvolvimento da produção.
Figura 3.1 – Melhoria nos Aspectos Competitivos
Inicialmente para qualquer empresa existir e fabricar um produto comercializável no mercado ela precisa atingir um nível mínimo de Qualidade, ao qual faz o produto passar a ser aceito pelos consumidores.
Tendo o produto funcional, passa-se ao desafio de conseguir aceitar os pedidos demandados e cumprir os prazos de entrega estipulados. Com a produção estabilizada, produzindo dentro dos padrões e atendendo os prazos, passa-se a buscar melhorias organizacionais que possibilitem produzir o produto mais rapidamente.
Aumentando a rapidez e tornando a empresa mais competitiva em seu cenário, é o momento de pensar em produzir diferentes produtos, e ser capaz de atendê-los dentro de sua organização atual o que demandará flexibilidade nas operações.
Finalmente, no último nível estão os custos representando que qualquer alteração nos outros quatro aspectos competitivos haverá uma influência direta sobre os custos, seja para mais, ou para menos.
Estes são, portanto, os cinco aspectos competitivos que orientam as decisões tomadas na administração das operações. Apresentar bons desempenhos nestes aspectos contribui para competitividade, e são decisivos para sobrevivência da organização no mercado.
Para tanto é preciso conhecer cada um dos aspectos competitivos e como afetam diretamente a organização da produção.
A interpretação para o conceito da Qualidade foi debatida e analisada a exaustão na literatura pertinente. Para o propósito da análise de aspectos competitivos vamos considerar que qualidade é fazer um produto atendendo todos os requisitos do cliente, ou também superando estes requisitos.
Ao se buscar a qualidade na fabricação de um produto, invariavelmente se implicará em investimentos na utilização de melhores equipamentos e insumos, ou adição de controles e inspeções específicas, mas a longo prazo este investimento tenderá a representar redução de custos operacionais.
Ao se atingir um processo que apresenta menos falhas na qualidade, haverá um fluxo mais contínuo dos materiais, tornando-o mais rápido. O contrário, tende a deixar o processo mais incerto e ocasionar mais paradas interrompendo o fluxo. Um menor nível da qualidade gerará mais refugos e retrabalhos, aumentando os custos operacionais.
A Qualidade também exercerá influência direta na percepção do consumidor ao produto, pesando no momento da tomada de decisão para consumi-lo ou não.
Para compreender a importância do aspecto Qualidade dentro do mercado de atuação da empresa, deve-se considerar a seguinte pergunta: o aspecto Qualidade é determinante para o mercado ao definir a compra deste produto?
Claro que toda empresa e consumidor quer o máximo de qualidade para o produto que vai consumir, mas em alguns mercados o alto nível de qualidade do produto é condição imprescindível para o fornecimento deste.
Por exemplo, uma empresa que fornece ativos químicos utilizados pela indústria farmacêutica. Este tipo de produto, é condição imprescindível para indústria farmacêutica que atenda rigorosamente todos os padrões de qualidade, afinal o produto que utilizará esta matéria prima está envolvendo a vida de pessoas.
A empresa farmacêutica compradora, com certeza quer o melhor em todos os cinco aspectos competitivos, mas o aspecto qualidade é claramente imprescindível para o produto, logo este é o aspecto principal para o mercado.
Assim, entre os aspectos competitivos, se o aspecto qualidade é imprescindível, a empresa fornecedora deve priorizar todas as decisões organizacionais e de planejamento na produção do produto. É a qualidade que faz o mercado comprar este produto, logo deve ser priorizada.
Imagine, por exemplo, que se tome alguma decisão na administração da produção que prejudique constantemente o aspecto qualidade do produto, invariavelmente esta empresa irá ter problemas na comercialização de seu produto correndo o risco inclusive de perder clientes.
Uma operação com baixo desempenho no aspecto Qualidade, tende a influenciar negativamente o planejamento da produção fazendo com que os fluxos na produção sejam parados ou desviados para tratar anomalias.
Baixo desempenho em Qualidade pode levar perda de prazos de entrega ou a falhas do produto que já esteja com o cliente.
A atuação para se atingir bons níveis da Qualidade estão geralmente associados a bons projetos dos produtos por parte da Engenharia de Produto, bons projetos dos processos produtivos, por parte a Engenharia de Processos, e bons métodos de gestão e controle por parte da Engenharia da Qualidade.
Com relação ao Departamento de Planejamento e Controle da Produção é preciso se ter controles confiáveis (que monitoram e condizem exatamente com o que acontece na realidade fabril), como por exemplo, controles de entrada, saídas, apontamentos, rastreabilidade, listas de materiais estruturadas (Bill of Materials), roteiros e tempos produtivos aderentes a realidade etc.
Sendo assim, de modo geral, tendo o aspecto Qualidade como aspecto prioritário do mercado, o planejamento da produção deve tomar ações que facilitem os meios de controle e impeçam erros no processo produtivo. Isso feito, garantirá a manutenção do aspecto competitivo que influencia diretamente a decisão do mercado em comprar da empresa.
O aspecto competitivo Rapidez ou Velocidade está relacionado ao tempo que a empresa precisa para entregar o produto ao cliente depois que o pedido é realizado.
A Rapidez de produção e entrega envolve muitas características organizacionais da empresa, principalmente o que se costuma chamar de ambiente de manufatura (apresentado posteriormente neste material).
Empresas rápidas tendem a ter menos estoques transitando dentro das instalações (materiais em processo). Menos matérias e menor utilização de tempo das instalações leva a menores custos operacionais.
O fluxo de materiais desenvolvido de forma rápida fará a operação ser mais produtiva e enxuta.
Para compreender a importância do aspecto Rapidez dentro do mercado de atuação da empresa, deve-se considerar a seguinte pergunta: o aspecto Rapidez é determinante para o mercado ao definir a compra deste produto?
Sendo a Rapidez o aspecto determinante para o mercado consumir este tipo de produto, certamente as empresas que apresentam maior Rapidez tendem a ter preferência dentro do mercado.
Logo, identificado que o aspecto mais relevante para o mercado de atuação da empresa seja a Rapidez, todas as ações de organização e planejamento da produção devem buscar a priorizar este aspecto no ambiente fabril.
De outra forma, se a gestão da produção negligenciar este aspecto, a tendência é que o mercado deixe de consumir da empresa já que ela não entregará o que é mais desejado.
Uma operação com baixo desempenho em Rapidez tende a atuar com maior volume de estoques de materiais em processo, o que custa mais dinheiro a empresa. Baixa Rapidez muitas vezes é um reflexo de operações mal organizadas, com fluxos intermitentes e morosos, além de maus projetos de processos produtivos.
A organização dos fluxos e sequenciamento e programação da produção são atividades de responsabilidade do PCP, e afetam diretamente a Rapidez do processo produtivo.
Sendo assim, de modo geral, tendo o aspecto Rapidez como aspecto prioritário do mercado, o planejamento da produção deve tomar ações que facilitem os fluxos e reduzam os estoques do processo produtivo. Isso feito, garantirá a manutenção do aspecto competitivo que influencia diretamente a decisão do mercado em comprar da empresa.
Observando o significado da palavra confiabilidade, pode-se associá-la também com “algo que apresenta qualidade”, mas no contexto da análise dos aspectos competitivos da produção, ela está estritamente relacionada a capacidade da empresa em cumprir os prazos prometidos.
Operações que apresentam confiabilidade tendem a ser operações mais estáveis administrativamente, com os processos muito bem estabelecidos, o que invariavelmente trás economia de tempo e dinheiro.
O aspecto Confiabilidade está bastante relacionado com o aspecto Rapidez, mas são diferentes. Uma empresa pode ter rapidez, mas não ser confiável (promete prazos curtos, mas não os cumpre), ou pode ser confiável e não ser rápida (cumpre o prazo estabelecido, mas este prazo é longo).
É comum também que empresas que trabalhem com longos prazos para atendimento, estejam na verdade escondendo problemas de uma má Confiabilidade.
Para compreender a importância do aspecto Confiabilidade dentro do mercado de atuação da empresa, deve-se considerar a seguinte pergunta: o aspecto Confiabilidade é determinante para o mercado ao definir a compra deste produto?
Sendo a Confiabilidade o aspecto determinante para o mercado consumir este tipo de produto, certamente as empresas que apresentam maior Confiabilidade tendem a ter preferência dentro do mercado.
Logo, identificado que o aspecto mais relevante para o mercado de atuação da empresa seja a Confiabilidade, todas as ações de organização e planejamento da produção devem buscar a priorizar este aspecto no ambiente fabril.
De outra forma, se a gestão da produção negligenciar este aspecto, a tendência é que o mercado deixe de consumir da empresa já que ela não entregará o que é mais desejado.
Na prática da organização e planejamento fabril, as decisões que afetam a Confiabilidade são as mesmas mencionadas anteriormente que afetam a Rapidez.
Além do fluxo de materiais que deve ser facilitado, há grande preocupação com o fluxo de informações e sua qualidade. Informações erradas podem comprometer o fluxo de materiais e atingir os prazos de entrega.
Outro aspecto importante é a gestão da manutenção dos equipamentos. Uma boa gestão levará a equipamentos mais previsíveis incorrendo em menores falhas inesperadas que comprometem diretamente os prazos.
Sendo assim, de modo geral, tendo o aspecto Confiabilidade como aspecto prioritário do mercado, o planejamento da produção deve tomar ações que facilitem os fluxos de informação e a gestão da manutenção de equipamentos. Isso feito, garantirá a manutenção do aspecto competitivo que influencia diretamente a decisão do mercado em comprar da empresa.
O aspecto competitivo Flexibilidade é a capacidade de uma operação alterar o que ela está fazendo, seja em termos de mix de produtos, volume de produção, prazo de entrega etc.
Mercados que são extremamente dinâmicos com produtos de vida útil curtas ou com tendências que se alteram rapidamente no decorrer do tempo, como por exemplo alterações em função das estações do ano, precisam que as operações envolvidas na fabricação destes produtos também sejam flexíveis o suficiente para atender essa dinamicidade.
Para compreender a importância do aspecto Flexibilidade dentro do mercado de atuação da empresa, deve-se considerar a seguinte pergunta: o aspecto Flexibilidade é determinante para o mercado ao definir a compra deste produto?
Sendo a Flexibilidade o aspecto determinante para o mercado consumir este tipo de produto, certamente as empresas que apresentam maior Flexibilidade tendem a ter preferência dentro do mercado.
Logo, identificado que o aspecto mais relevante para o mercado de atuação da empresa seja a Flexibilidade, todas as ações de organização e planejamento da produção devem buscar a priorizar este aspecto no ambiente fabril.
Operações que demandam Flexibilidade geralmente atuam em mercados que são extremamente instáveis. De modo geral operações flexíveis não aceitam muita intensidade de automação, sendo geralmente mais intensas em capital humano.
Mais polivalência nos funcionários e capacidade de projetos flexíveis para os equipamentos são características desejadas. Flexibilidade de equipamentos geralmente é atingido com a aplicação de técnicas de Troca Rápida de Ferramenta, que permite maior agilidade nas mudanças de mix de produtos.
Mais flexibilidade demandam processos com alto nível de comunicação visual, e métodos de trabalho documentados e bem organizados. Como a cada momento poderá ser preciso fazer algo diferente, os métodos precisam estar claros e acessíveis a todos a cada mudança.
Sendo assim, de modo geral, tendo o aspecto Flexibilidade como aspecto prioritário do mercado, o planejamento da produção deve tomar ações que facilitem adaptabilidade do processo e do pessoal. Isso feito, garantirá a manutenção do aspecto competitivo que influencia diretamente a decisão do mercado em comprar da empresa.
Ter uma organização produtiva que consegue entregar baixos custos operacionais é desejável em qualquer situação, mesmo que este não seja o aspecto prioritário dentro daquele segmento.
O Custo está relacionado a capacidade da operação fabricar o produto (mantendo todas suas características) com o menor empenho monetário possível.
Como o aspecto monetário está envolto em praticamente todos os aspectos das nossas vidas, e isso também é verdade na realidade fabril, o Custo acaba se tornando um aspecto central que é influenciado pela Qualidade dos produtos, Rapidez e Confiabilidade na entrega, e Flexibilidade operacional.
Para compreender a importância do aspecto Custo dentro do mercado de atuação da empresa, deve-se considerar a seguinte pergunta: o aspecto Custo é determinante para o mercado ao definir a compra deste produto?
Sendo a Custo o aspecto determinante para o mercado consumir este tipo de produto, certamente as empresas que apresentam menor Custo tendem a ter preferência dentro do mercado.
Logo, identificado que o aspecto mais relevante para o mercado de atuação da empresa seja a Custo, todas as ações de organização e planejamento da produção devem buscar a priorizar este aspecto no ambiente fabril.
Preocupações com o Custo permeiam cada canto e atividade de qualquer empresa. Do ponto de vista fabril, ações de melhoria e racionalização dos processos levam a benefícios na fabricação.
Economias de escala impactam os custos, logo empresas que atuam em mercados com o Custo como prioridade tendem a buscar mais automação das operações para aumentar o volume e atingir estas economias.
Sendo assim, de modo geral, tendo o aspecto Custo como aspecto prioritário do mercado, o planejamento da produção deve tomar ações que facilitem melhorias e redução de desperdícios. Isso feito, garantirá a manutenção do aspecto competitivo que influencia diretamente a decisão do mercado em comprar da empresa.
